22 março 2012

60 segundos


    Hinata


    Ontem, quarta-feira, dia 21 de março de 2012.
    A minha mãe ligou no meu celular pra saber como eu estava, se eu havia almoçado e se eu já estava trabalhando - ela liga toda dia, por volta deste mesmo horário. Nessa ligação, minha mãe disse que antes de eu ir pra casa era pra eu passar na casa da minha avó, pois ela havia reclamado que já não me via há dias. Falei pra minha mãe que passaria na minha avó antes de ir pra casa se ela estivesse acordada – tendo em vista que a casa da minha avó é do lado da minha, porém, quando chego da faculdade a minha avó já foi dormir e até já trancou a casa dela –, minha mãe disse que minha avó estaria me esperando.

    Tive um bom dia de trabalho, sai do trabalho, fui a uma banquinha de massas que fica próximo a faculdade – só lembrando que eu trabalho e estudo na minha faculdade – lanchei, voltei pra faculdade, escolhi um banco em meio às árvores pra sentar e estudar.
    Logo minha namorada chegou, ficamos juntos até a hora da aula e depois fomos pras salas de aula, cada um pro seu lado – como já é esperado de estudantes de cursos distintos.

    As aulas terminaram, fomos voltar pra casa. Eu, minha namorada e o meu amigo – e “motorista” - Rafael Lee. Na volta, antes do Rafael deixar a Luatane no terminal de ônibus e me levar pra casa, aconteceu uma tragédia.

    Em uma das ruas, pela qual a gente voltava havia um gatinho – filhote, deveria ter quando muito uns cinco meses de vida – mais ou menos no meio da pista, o Rafael diminuiu o carro pra não assustar ele, e passou do lado do gatinho e disse “Nossa, atropelaram ele, as patinhas de trás dele já eram”. Uns 5 metros foram percorridos, estávamos passando em uma rotatória e foi ai que a minha namorada disse “A gente podia ao menos tirar ele da rua, não me importo se isso vai demorar e se eu vou perder o ônibus”, então o Rafael disse “Eu só não pego porque tenho alergia”, nessa hora já vi que iria “sobrar” pra mim, pois já esperava a resposta da minha namorada que foi “Eu também tenho alergia, não posso pegar ele”. Mais uns 6 metros se passaram, o Rafael disse “Então Pedro, você pega ele? Porque se for pegar eu volto lá” – já havíamos passado pela rotatória, pegaríamos a próxima rua à direita, contornaríamos o quarteirão e pararíamos do outro lado da pista pra eu ir lá pegar o gatinho.

    Não sei por que, mas não consegui ser humano, ser instintivo, agir por impulso. Ponderei se deveria pegar o gato, pensei em “Dependendo de como ele foi atropelado ele pode ter “aberto” e se ele estiver assim vai estar sujo de sangue, eu vou me sujar se pegar ele, não vai dar pra pegar com uma folha de papel, vou ficar com as mãos sujas e não vou poder continuar abraçado com a minha namorada além do mais, vai tomar tempo. Pedro, não seja insensível, você está do lado da sua namorada, salvar o gatinho vai ser bom cara.” Depois de alguns segundos pensando decidi que sim e falei pro Rafael “Volta lá” e ele disse “Espero que dê tempo”. Pegou a tal rua à direita, contornou o quarteirão e quando estávamos chegando à rotatória – já dava pra ver o gato -, estava morto, estirado no chão. Mais um carro o havia atropelado, ele morreu.

    Provavelmente me esquecerei do gato, mas não da lição. Passei na minha avó, dei um longo abraço nela e disse que não havia sumido, só havíamos desencontrado os horários, pois agora ela só poderia me ver após a faculdade por ser o único horário em que eu estou em casa.

    Que você faça as escolhas certas, na hora certa porque 60 segundos é tempo de mais pra se pensar e pouco tempo pra resolver. O que custa pouco pra você pode custar muito pra alguém, até mesmo a sua vida. Dê valor, pense e faça.

    3 comentários:

    1. É isso aí. Assista ao filme Angel Crest, além de um ótimo entretenimento, coloca determinadas verdades contemporâneas em pauta, inclusive essa.

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      1. Assisti ao trailer aqui, achei bem interessante.
        Realmente tem ligação.

        Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=wtm_KLNxisw

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