25 março 2013

Narradores de Javé


    É exibido, antes que o filme se inicie de fato, sinais de pontuação que vem apresentando o nome de pessoas que participaram no filme. Estes sinais se comportam de uma maneira peculiar ao ponto de nos fazer pensar que eles estão dançando conforme a música. Enquanto isso vemos que eles simulam alguns objetos como por exemplo: uma máquina de escrever, passos de uma pessoa, uma mesa de sinuca etc.
    O Filme começa começa com um rapaz correndo e logo percebemos que ele perdeu a balsa para leva-lo ao outro lado do rio, o rapaz vai para um bar e então começa toda a história do filme. No bar o leitor ganha a confirmação de que o rapaz de fato não é da região pois perdeu a balsa por conta do horário - que logo vai ser apresentado como uma caracteristica marcante das pessoas daquela região interiorana - e também por demonstrar muito “urbanismo” pelas suas vestes, relógio, modo de fumar e disc man.

    O Rapaz da cidade nos surpreende ao retirar os fones de ouvido pois neste instante percebemos que estavamos em cartase pois a música que o personagem ouvia era a música que pensavamos ser a música de fundo daquela cena - e de fato também era. O Rapaz vai até o balcão e pede um copo de água de coco, a suposta atendente do estabelecimento apenas o olha como se ele a tivesse interrompido de uma tarefa muito importante, ela estava lendo um livro. Souza - o filho da senhora que lê - diz para mãe fechar o livro, Zaqueu intervem dizendo que “as vezes é bom” aprender a ler e com um ar de mistério inicia um conto que para Souza seria um ótimo passatempo para o rapaz que provavelmente traria lucros ao estabelecimento por dormir em um quartinho nos fundos do bar.

    O sino da igreja do povoado de Javé é tocado, dentro da igreja todo o povo está reunido em meio a desordem, logo entra Zaqueu como um emissário em frente ao povo - e em frente aos santos da igreja - traz a notícia de que por conta da construção de uma barragem a cidade inteira será inundada, Wagner - visivelmente como o braço direito de Zaqueu - comprova o que Zaqueu disse com os fatos apresentados pelos engenheiros. Em meio a discussão é sugerido por Zaqueu uma maneira de salvar a cidade de Javé por meio de um registro em livro da história do local, este registro será composto por contos dos moradores de como foi dado o inicio da cidade. Um novo problema surge, os moradores em sua maioria são analfabetos totais e portanto se perguntam de quem será a “mão santa” que escreverá o livro. Um dos moradores sugere Antônio Biá pois ele é o único no povoado que sabe ler e escrever.

    É apresentado a icônica figura de Antônio Biá, um ex-funcionário dos CORREIOS que para não perder o emprego na cidade em que ninguém lia e nem escrevia, passou a escrever cartas contando os acontecidos reais e inventados dos moradores e endereçadas aos seus conhecidos de outras cidades. Quando os cidadões o descobriram ele foi afastado da cidade e passou a ser alguém inconfiável até o momento em que foi escolhido para ser o escritor do livro que salvaria Javé - do hebraico, "aquele que traz à existência tudo que existe". Antônio Biá neste momento receberia o papel de Javé.

    O personagem Antônio Biá, seus feitos e aqueles que o cercam serão frequentemente referenciados a crenças religiosas como logo de começo onde sua casa é mostrada e no umbral da porta está escrito a frase “Proibida a entrada de analfabetos” que faz referência biblíca aos umbrais pintados de sangue durante a décima praga do egito - a função da pintura nos umbrais seria afastar o anjo da morte.

    Biá inicia as suas entrevistas para saber as origens do povo daquela terra, nesta fase começamos a conhecer os personagens do passado como Indaleste e Maria Dina, cada um apresentado de formas distintas por pessoas distintas pois o interesse das pessoas passa a ser de projetar uma imagem e não retratar a realidade o que nos leva novamente ao questionamento da possibilidade de se retratar a realidade.

    Na etapa em que as entrevistas acontecem podemos ver outras referências biblícas como o dilúvio, o povo guiado por Moisés em busca da terra prometida e até mesmo Biá sendo adorado pelas crianças. A ligação bíblica presente no filme é evidenciada quando Biá brinca ao dizer que no tempo da biblía era fácil se contar uma história e escrever um livro. Com o passar dos dias Biá vai ganhando seguidores e passando a ser aquele que detém a verdade. Biá passa a ver o tamanho de sua influência e faz uso dela pra beber, comer e ganhar um corte de cabelo sem contar que até questiona uma de suas seguidoras se ele seria um “pokémon de Jesus” - um escolhido. Biá sempre tenta “florear” as histórias do povo e um fato que comprova isso é a frase que parece ser um ditado dele, “o fato acontecido tem de ser melhorado no fato escrito para que o povo possa crer no fato acontecido”.

    Em uma das entrevistas os leitores vêem uma clara referência ao voodoo, uma das religiões de grande importância na africana, logo após esta entrevista Antônio Biá volta para casa e lá tem uma visão que o preocupa pois ele viu um dilúvio sem aproximando. Os engenheiros chegam a cidade com suas tralhas tecnológicas - se não diabólicas -, ocorre uma conversa face-a-face entre a figura do Demônio e ado escolhido - Antônio Biá e o “Matador”. Um dos engenheiros começa a filmar os moradores do local, nesta parte podemos perceber algo interessante que é a recursividade de uma câmera mostrar a outra. No ponto de vista tecnológico uma câmera filma a outra e no ponto de vista narrativo, um ponto de vista é usado para mostrar outro.

    Próximo ao fim do conhecemos a figura de um louco que entra na igreja, o povo não crê nele mas Biá por ser uma referência da verdade da voz ao louco e este “condena” o fim da cidade pelas águas fazendo mais uma vez uma referência bíblica, desta vez ao dilúvio e ao Profeta Moisés, um velho de barba longa e com um cajado.

    Zaqueu chega na cidade, um encontro noturno é marcado e nele Biá irá apresentar e ler os contos do livro que teoricamente terminou de escrever. No encontro Biá não aparece e começa a ser caçado da mesma forma em que foi caçado quando aprontou nos CORREIOS. Biá é pego e levado diante ao povo, ele assume que não escreveu nada por considerar este um ato inútil pois o que a cidade tem de valor são “os contos contados” e estes não podem ser racionalizados pela escrita, logo, a cidade não tem salvação. Biá, ficou como o salvador falho de Javé pois a única coisa que ele sabia fazer era inventar verdades assim como os contadores que pareciam reinventar seus contos - coisa que os mesmos não tinham ciência por completo, segundo Antônio Biá.

    A cidade é inundada e vemos que pouca coisa pode ser salva como por exemplo o sino da igreja que tem de ser bem amarrado no topo do automóvel para que os seus portadores não o perca, assim mostrando o valor que é a fé recebe acima de quaisquer outras coisas. Vemos Antônio Biá escrevendo os acontecidos da cidade e acompanhando os moradores agora desabitados porque ele sabe que a sua importância não é determinada pela sua vitória ou derrota ao salvar a cidade mas sim pelo valor estimado por aqueles que nele crê.

    A história de Javé curiosamente voltou as suas origens por ter novamente um povo sem terra em busca de uma. O Filme termina com a voz de Zaqueu dizendo que esta é a história que se contam de Javé e que “é isso e não tem mais que isso, quem quiser que escreva diferente.”.

    Um comentário:

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